terça-feira, março 28, 2006
sábado, março 25, 2006
terça-feira, março 21, 2006
Com a primavera cai a dor no lodo...
ÍCARO
A minha Dor, vesti-a de brocado,
Fi-la cantar um choro em melopeia,
Ergui-lhe um trono de oiro imaculado,
Ajoelhei de mãos postas e adorei-a.
Por longo tempo, assim fiquei prostrado,
Moendo os joelhos sobre lodo e areia.
E as multidões desceram do povoado,
Que a minha dor cantava de sereia...
Depois, ruflaram alto asas de agoiro!
Um silêncio gelou em derredor...
E eu levantei a face, a tremer todo:
Jesus! ruíra em cinza o trono de oiro!
E, misérrima e nua, a minha Dor
Ajoelhara a meu lado sobre o lodo.
José Régio
sexta-feira, março 17, 2006
quinta-feira, março 16, 2006
Estados de espírito
Escrevo quando a alma me pesa. Daí já não escrever há tanto tempo, a alma está leve e não há raiva ou angústia que seja preciso soltar, não é que falte a inspiração, mas com a alma leve só me lembro de clichés sobre a harmonia, era a raiva que dava a substância, o “rancor” é que nos faz atirar com as palavras como se fossem armas, depois de elas nos torturarem cá dentro, como um punhal que se torce após a inserção...
Estou numa fase de flutuação, pairo acima de todas as angústias e temores, chego a perguntar-me se as esqueci de facto, ou se se trata só de um estado alterado de lucidez a roçar a esquizofrenia.
Acho que ainda não perdi a noção da realidade, todos os dias me assaltam momentos de lucidez terríveis. Quando as coisas materiais nos invadem o raciocínio, e vimos que é impossível fugir delas, e as responsabilidades presentes e futuras que pendem sob as nossas decisões, a baloiçar entre o exagero e o desprezo, entre o equilíbrio psicossomático e o que de nós pretendem os outros; os outros, sempre os outros a tolher-nos os gestos, a obrigar-nos a colocá-los na balança da nossa própria vida.....
Mas por enquanto, deixem-me passear por este limbo só a olhar o céu, deixem-me vaguear um pouco por este êxtase que experimento ao sentir-me...